Educação

Professoras e funcionárias da Colônia sofrem para chegar à escola

Docentes e funcionárias de escola na Santa Silvana não dispõem de transporte coletivo para a localidade nos horários que necessitam

Paulo Rossi -

Os transtornos diários enfrentados por 11 professoras e funcionárias para chegar à Escola Estadual de Ensino Fundamental Dirceu Moreira, situada no 6º Distrito de Pelotas, colônia Santa Silvana, está longe de chegar ao fim. Não existe transporte coletivo que as deixe diretamente na localidade, da mesma forma como não há para o retorno às suas casas. O Estado se exime de qualquer responsabilidade com o deslocamento, por subsidiar o valor de difícil acesso, e o município não disponibiliza uma linha que as contemple porque os horários de necessidade delas são inversos ao fluxo de passageiros. A baldeação deve continuar.

De segunda a sexta-feira as docentes precisam sair de casa às 6h para chegar antes do horário da aula, às 7h30min. Utilizam a linha intermunicipal para São Lourenço do Sul, descem no Capão do Almoço, onde um transportador as pega e leva à escola. No final da tarde pegam carona com funcionários da Unidade Básica de Saúde (UBS) até o Arroio do Padre, onde pegam o ônibus para Pelotas. Deixam a localidade às 17h30min e chegam em casa duas horas e meia depois.

Detalhe: pagam ao transportador e dividem o combustível com os servidores da saúde. O gasto total ultrapassa os R$ 500,00 que recebem pelo difícil acesso. “Estamos pagando para trabalhar”, diz a professora Maria Sedrília Barbosa. Relata que antigamente havia uma linha de ônibus que podiam usar e chegar diretamente na escola, mas foi considerada deficitária e então extinta.

Segundo as professoras, a linha existente só faz os horários de início da manhã e final de tarde, mas não serve para elas, por causa do sentido contrário. O problema se intensificou este ano e elas tentam se organizar de forma a não deixar de dar aula. Desde o início de 2016 a Dirceu Moreira está sem funcionária para limpeza. Era esperada para este mês uma pessoa contratada, mas a expectativa não é a melhor. As professoras acreditam que deverá desistir, face à dificuldade no deslocamento.

“A gente gosta, se dispõe a vir, levanta às 5h30min. Não nos importamos. Mas gostaríamos de contar com transporte”, frisa a professora Clarice Vieira. “Um dia pagamos um pai para nos levar”, acrescenta Maria. “Cada dia é um dia. Nunca se sabe. E também temos família, filhos, marido e casa”, completa a também professora Rejane Ruiz. Como ficam distante 45 quilômetros da cidade, almoçam na escola. Dividem o gás, os alimentos e cozinham lá. “A gente é uma família”, conclui Maria.

Interação na comunidade escolar
O prédio da Dirceu Moreira foi construído em 1941, quando passou a funcionar, à época, como grupo escolar. A sineta para definir horários de início, recreio e fim das aulas ainda é manual. São 79 alunos distribuídos nos turnos da manhã e da tarde, que não costumam faltar, mesmo com chuva forte. O convívio na escola é sinônimo de interação com os amigos, assinala Jonatan Dummer, 14.

Maurício, também de 14, é colega de Jonatan no oitavo ano. Frequenta a Dirceu Moreira há três anos e os pais, os agricultores Berenice e Orlandir Schroeder, estão muito satisfeitos com o aprendizado do filho. “A escola é muito boa. Não temos queixa. Só lamentamos essa situação”, fala a mãe, ao se referir à questão do transporte.

Já o pai é enfático, ao manifestar sua preocupação com o futuro da escola: “Queremos nosso filho aqui. Junto com a cidade não dá, é só briga”, assegura. A agricultora Ledenir Krugger relata que muitos pais se revezavam para ajudar as professoras, que antes desciam no posto de combustíveis, mas agora o transporte não entra mais por lá. Ela tem um casal de gêmeos de 12 anos na Dirceu Moreira. “As professoras não têm condições de vir, não têm ônibus. Isso está ruim”, completa.

Situação não deve mudar
As professoras temem que o educandário possa vir a fechar pela dificuldade de transporte e suas constantes reivindicações. O Estado, no entanto, descarta a possibilidade. Conforme o coordenador administrativo-financeiro da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Carlos Humberto Vieira, as professoras não têm direito a transporte subsidiado, pois ganham difícil acesso e vale-transporte para ir por conta própria. “Não podem esperar mais do que isso”, afirma.

O diretor de transportes da Secretaria de Transporte e Trânsito, Paulo Osório, explica que o fluxo é inverso aos horários que as professoras da Dirceu Moreira necessitam. Quando elas vão, o transporte vem em direção ao Centro e quando elas voltam, está indo para a colônia. “Elas querem um deslocamento no fluxo contrário e temos dificuldade em atender. Não posso garantir que a licitação da zona rural vai solucionar esse problema”, admite.

De acordo com Osório, não existem passageiros para utilizar esses horários, a não ser elas, o que inviabiliza financeiramente. A licitação até poderá contemplar esse horário, mas não se trata de uma promessa.

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